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Na antiguidade homens e mulheres instintivamente descobriram o ritmo do universo: o sistema solar onde planetas e estrelas se moviam, as estações do ano, o dia e a noite, a lua e o sol. Os vegetais e os animais nasciam, cresciam e morriam. As marés subiam e desciam. O coração batia, o sono seguia-se à vigília. Tudo tendo uma duração, acontecendo em intervalos regulares, o tempo fluindo. Nossos ancestrais primitivos vivenciaram e testemunharam essa ordenação natural, descobrindo um ritmo interno e um ritmo externo, se movimentaram em concordância com ele, sendo esse o momento mais longínquo da dança. Curt Sachs, (1881-1959), historiador da arte e da música, no seu livro A World History of Dance diz: “A dança dos animais, especialmente a dos macacos antropóides, prova que a dança dos homens é, em seu início, uma agradável reação motora, um jogo que força a energia excessiva em um padrão rítmico”. (SACHS 1937, p. 175)
O período Paleolítico Superior é também caracterizado pela magia simpática, praticada pelo homem daquele período, e pela arte rupestre (pinturas em rochas). Tudo nos leva a crer que os humanos viviam num nível econômico improdutivo, coletavam ou capturavam seu alimento, num individualismo primitivo, numa organização social instável, se agrupando em pequenas hordas, não acreditando em deuses, vivendo uma vida prática que girava em torno da sua sobrevivência.
Nessa época de vida puramente prática, tudo gravitava, como é obvio, em torno da mera subsistência, e nada justifica, portanto, supormos que a arte servia a qualquer outro propósito que não fosse o de constituir um meio para a obtenção de alimentos. Todas as indicações apontam, mais exatamente, para o fato de que se tratava do instrumento de uma técnica mágica, e como tal, tinha uma função inteiramente pragmática que visava alcançar objetivos econômicos diretos. Essa magia nada tinha de comum com aquilo que entendemos por religião, (...) era ao mesmo tempo a representação e a coisa representada, o desejo e a realização do desejo (HAUSER, 1995, p. 04).
Dançar, nesse tempo, era o estabelecimento de uma relação com a natureza, fazer parte do movimento universal, e talvez subjugá-lo. Isso se apresenta nos desenhos nas cavernas de Gabillou, na Dordonha (12.000 a.C.), de Trois frerès, em Ariège (10.000 a.c.), da gruta de Palermo, 8.000 a.C., de Lascaux, Altamira e Combarelles.
A dança no período Paleolítico não existia como forma decorativa ou expressiva. Ela continha um fim prático, utilitário, que estava ligada à magia, e as figuras humanas disfarçadas de animais, interpretavam danças mímico-mágicas. Costa (1998), citando Boucier, afirma que “datam de 14.000 anos os primeiros documentos a apresentar um ser humano envolvido em ações consideradas de dança” (p.20). No período Neolítico, não se procurava mais concretizar artisticamente a experiência cotidiana, mas fixar-se na idéia, no conceito, criar símbolos. Acontece nesse ponto uma mudança radical na cultura, representando um corte na história da humanidade, cujo ambiente material e estrutura espiritual vêem-se frente à uma transformação tão grande, que o vivido anteriormente fica parecendo instintivo, animalesco: nesse ponto o ser humano deixa de caçar e coletar e passa a produzir seu alimento.
Domesticando animais e plantas, tem seu primeiro triunfo sobre a natureza, tornando-se mais independente e se organizando socialmente de forma diferente da anterior. Mudam-se o conteúdo e o ritmo da vida dos povos desse tempo. Aí, “os ritos religiosos e os atos de culto assumem agora o lugar da magia e da feitiçaria” (HAUSER, 1995, p. 11).
No Paleolítico, havia a ausência de culto. Dominados pelo medo, (da fome, da morte, dos inimigos), os humanos se valiam da magia, mas não relacionavam a sorte boa ou má a qualquer poder superior. No Neolítico, ao cultivar plantas e criar animais é que sentiram que dependiam de poderes que podiam determinar o rumo de suas vidas.
Dessa dependência surge a idéia de poderes superiores, concebidos como desconhecidos e misteriosos, forças sobrenaturais e sobre-humanas. O mundo se divide, e o ser humano também.
Conforme Hauser (1995), o animismo - todos os fenômenos intelectuais e físicos que deixam supor uma atividade extracorpórea ou a distância do organismo humano, e mais especialmente todos os fenômenos mediúnicos que podem ser explicados por uma ação que o homem vivo exerce além dos limites do corpo - toma forma, surgem os cultos, a idéia da alma que sobrevive ao corpo, o sagrado e o profano. A partir daí a dança já expressa emoções e idéias, se tornando parte principalmente, nos cultos religiosos. A partir daí, a dança já expressa emoções e idéias, tomando parte, principalmente, nos cultos religiosos tendo os sacerdotes e magos, como elaboradores de uma dança mais complexa que a do período anterior.
Stela Márcia Petrazzini Colombo
Psicóloga
Fonte:
COSTA, A. L. B. Danças circulares sagradas. Org. Renata de C. L. Barros.
COSTA, Mauro José Sá Rêgo Costa. O corpo sem órgãos e o sentido como acontecimento. IN:Silva, Ignácio Assis. Corpo e sentido – A escuta do sensível. São Paulo: UNESP, 1996.São Paulo: Trion, 1998.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo. Martins
fontes, 1995.
SACHS Kurt. World History of Dance, Paris, 1938.
___________. História Universal da Dança. Enciclopédia Barsa. São Paulo: p. 63, 1967.
O universo.. a Vida dança!
ResponderExcluirQue maravilha de postagem!
Já falei que amo o texto do seu perfil?
Nossa senti cheiro de incenso de morango agora!
Beijos de Luz!